julho 04, 2010

Da duvida

e se eu fizesse
todas as escolhas
erradas
ou a única escolha
certa
possível
tu ainda assim
me amarias?
e se eu partisse
e indo embora
a cada passo dado
para largar-me ao mundo
ainda mais que nunca
para longe de mim
e isso me fizesse algo de bom
algo de bem
algo que há tempos não sinto
tu ainda assim
me amarias?
e se a memória me levasse
e se a raiva me levasse
e se a saudade fosse tanta
e me levasse
para um canto incompreensível
das coisas que se sente
quando se está só
tu me amarias?
e se eu me conter
para dizer
novamente
que o amor é injusto
que a dor é injusta
que a história que contamos
é injusta
e o trabalho que nos ocupa
todo santo dia
é injusto
tu me amarias?
tu me amarias?
se eu me perdesse
se eu não me achasse
se eu não encontrasse saída
para o certo e o incerto em mim
se eu causasse o maior estrago
se eu fizesse o escândalo maior do mundo
se eu não pudesse mais parar por um único
segundo
tu me amarias?
e se eu fosse fraco?
e se eu fosse fútil?
e se eu não tivesse dinheiro nenhum?
nem empregos
nem a vontade de participar
do que fosse
e se eu fosse sujo
ríspido
roto
gasto
assustado
apavorado
amedrontado
e estivesse encolhendo
encolhido
por dentro
tudo isso
por dentro
tão diferente
do por fora
tu me amarias?
e se eu não achasse o caminho da volta?
e se eu não soubesse nada a respeito do que eu vejo no espelho?
e se eu nasci com a capacidade de jamais esquecer?
e se eu tiver vocação para me perder?
tu me amarias?
tu me amarias se
eu fosse tão velho quanto o tempo
ou infantil como a criança mais doce e ingênua
e se eu fosse apenas

humano

tu me amarias?
e se eu te amar para sempre
e te querer tão bem para sempre
e te desejar silenciosamente para sempre
e te enxergar
e te ver
e te perceber
e te notar
e te avistar
e tão simplesmente

nunca

mais

te

ter

tu me amarias?
tu me amarias
se eu deixar de existir
se eu deixar de perder as minhas coisas pelo caminho
se eu deixar de estar onde sempre estive
se eu deixar de ser qualquer coisa que se perceba
se eu deixar saudade nenhuma
tu me amarias?
tu me amarias pelas coisas que não pude ser
pelas que me cansaram
por aquelas que não pude compreender
pela raiva que senti
pela tristeza que senti
pela saudade que senti
e por ser como toda a gente deste mundo
inseguro
imprevisível
imaturo
tu me amarias?
tu me amarias se
eu te contasse que
toda a nossa vida em comum
cabe na palma de nossas mãos
e que ela haveria de voar um dia
para a liberdade de uma outra vida
só para não envelhecer?
tu me amarias?
tu me amarias
se as palavras me faltassem
se as palavras não me bastassem
se as palavras não estivessem mais
onde deveriam estar
ou se as palavras
juntas ou separadas
não significassem nada
desconexas
inexatas

não

tu não me amarias!

Nenhum comentário:

Postar um comentário